terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fatos e versões na crise do Senado

Uma sucessão de escândalos no Senado Federal leva à especulação a respeito de um possível jogo de cena para manipular as eleições do próximo ano

por Natália Moraes

Nos últimos meses, o Senado brasileiro tem atravessado uma de suas principais crises em sua história recente. Vem sendo alvo de sucessivas denúncias e escândalos que envolvem os políticos, abalando a credibilidade da Casa. O ponto inicial dessa crise foi a renúncia de Agaciel Maia do seu cargo de diretor geral, após a descoberta de que ele havia ocultado bens em suas declarações ao Fisco, como uma mansão comprada em 1996 em um bairro nobre de Brasília.


Entretanto, a principal polêmica girou em torno dos inúmeros pedidos de renúncia feitos por diversos parlamentares contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB-RR), que foi acusado de nepotismo e malversação de verba pública. Mas ele não renunciou e os processos foram arquivados pela Comissão de Ética. Um dos prováveis motivos é a maioria dos senadores também se sentirem ameaçados, pois em algum momento de sua trajetória seus atos não foram diferentes dos praticados pelo senador maranhense, como se verificou, por exemplo, nas denúncias feitas contra o senador Arthur Virgílio (PSDB/AM), também arquivadas pela Comissão.


“Não há crise no Senado, apenas divergências e acusações que devem ser apuradas”. Essa declaração dada pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva durante recente viagem a Europa, indica a posição do principal mandatário do País sobre o tema. Lula ainda completou dizendo que não votou em Sarney para presidente do Senado. “Eu votei nos senadores de São Paulo. Então, quem tem que decidir se o presidente Sarney continua Presidente do Senado é o Senado. Somente o Senado, que o elegeu, é que pode dizer se ele vai ficar ou não. Não sou eu.”

Crise sistemática
Em contrapartida, José Alves de Freitas Neto, coordenador do curso de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), discorda da visão de Lula. Em entrevista concedida ao jornal Folha da Foca, Neto afirmou que há uma crise sistemática. “A situação do Senado é crítica por ser um ataque às garantias constitucionais e ao princípio ético elementar da transparência no exercício do poder”. Neto também acredita que esses sucessivos acontecimentos não são somente jogo de cena.

Um dos principais panos de fundo de toda a crise é a eleição do próximo ano, na qual estarão em disputa dois terços das 81 cadeiras de um Senado desmoralizado diante dos eleitores. O jogo eleitoral de 2010 está sendo disputado agora, exatamente nos locais em que se pode definir os parceiros eleitorais. O PMDB, maior partido nacional, é desejado pelo PT e PSDB. Os tucanos querem que, pelo menos, o PMDB não se alie à candidata de Lula. Em vários estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, o PMDB é da base tucana. O ex-governador Quércia é um dos maiores apoiadores do nome de José Serra, virtual candidato tucano à presidêncxia.

“É difícil prever se a crise do Senado pode afetar as eleições 2010. As pessoas estarão mais atentas à eleição presidencial e de governador. A eleição de senadores e deputados fica sempre em segundo plano”, afirma Neto.

A visão do eleitor
É fato que grande parte da população não sabe como funciona o Senado nem a sua utilidade. Para Neto, isso é culpa da mídia, que faz uma denúncia apressada sem um fundamento maior. “A mídia mesma se cansa do que ela pauta. Dentro de alguns meses estaremos no quadro das definições eleitorais e isso acabará por sepultar o tema da crise do Senado. Também temos que pensar que as pessoas têm outros interesses e isso faz com que não seja possível prever quanto tempo um assunto será explorado ou não.”


Para o estudante João Victor Capellagui de Carvalho, aluno do 3° ano do curso de Administração de empresas das Faculdades de Campinas (Facamp), as notícias sobre crise do Senado são mal divulgadas pela mídia e apesar dos escândalos denunciados, seu voto permanecerá o mesmo. Já para o estudante Daniel Virgílio dos Santos, também aluno do mesmo curso, as notícias sobre a crise vão fazê-lo refletir melhor na hora de escolher seu representante no governo. Sua decisão será baseada nos fatos que estão diariamente na imprensa.

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