quinta-feira, 29 de julho de 2010

Carros abandonados apodrecem nas ruas de Campinas

As carcaças se tornam um problema para o trânsito caótico e para a saúde da população

É comum encontrar carros velhos abandonados nas ruas das grandes cidades. São veículos em péssimo estado de conservação e sem condições de uso. A maioria está depenada e sem placa. Pertencem a ferros-velho, oficinas mecânicas, desmanches próximos ou não possuem dono identificado.
No ano passado, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) registrou 56 ocorrências na cidade de Campinas, vindas de denúncias de moradores. Porém, basta dar uma volta para encontrar um número maior desses veículos “esquecidos”. Com o tempo, as carcaças vão apodrecendo nas ruas, causando muitos transtornos. Atrapalham o trânsito, degradam o ambiente além de representar um problema para a saúde pública.
“Esses carros atrapalham o trânsito das intermediações. Já vi quase acontecer um acidente devido a esse lixo deixado na rua”, afirma o engenheiro de telecomunicações Marcos Duarte. Morador de um bairro campineiro onde há pelo menos quatro casos de abandono, ele ainda afirma que as carcaças próximas a sua casa estão paradas ali há pelo menos três anos. Indignado com a falta de atitude das autoridades responsáveis, Duarte diz já ter reclamado inúmeras vezes no telefone da prefeitura, porém nada foi feito. “Certificaram-me que registrariam a reclamação e passariam a ocorrência para a polícia investigar, e até agora não vi nada acontecer”, criticou.
Apesar de a retirada poder ser feita por vários órgãos, os restos de carros, permanecem em vários pontos da cidade, o que demonstra um descaso da fiscalização. A Emdec não pode realizar a remoção desses carros quando estacionados em locais permitidos. Cabe ao Departamento de Limpeza Urbana retirá-los se estiverem depenados e sem rodas. Já se o veículo for roubado, a polícia se torna responsável por essa tarefa.
Muitos desses veículos viraram depósitos de lixo, e os vidros, abertos ou quebrados, abrem espaço para a água da chuva, que pode se acumular dentro do carro e até virar foco do mosquito da dengue. A vigilância sanitária considera essas carcaças como pontos de risco, pois são locais que apresentam alta probabilidade de se tornarem criadouros do mosquito Aedes aegyp, transmissor da dengue. Existem três níveis de pontos de risco. O ponto de risco alto é visitado uma vez por mês pelo Centro de Controle de Zoonoses de Campinas (CCZ) uma vez por mês, que elimina o criadouro. Os pontos de risco médio e baixo são visitados por agentes de saúde ou agentes ambientais a cada 15 dias. A cada visita, os agentes eliminam os focos, aplicam veneno, dão orientação ao proprietário da residência ou estabelecimento próximo e fazem relatório para enviar à vigilância sanitária. Porém, a vigilância sanitária, o CCZ e os agentes não têm autoridade para retirar os carros desses locais. “Os agentes e o CCZ apenas podem assegurar que estão cumprindo seu objetivo, que é eliminar os focos da dengue”, afirma a agente de saúde Maria Aparecida de Souza Moraes.
A falta de ferramentas dificulta a retirada desses carros. Segundo a Emdec, a remoção não pode ser feita se estiverem estacionados em locais permitidos. Se não houver queixa de roubo ou atraso com o pagamento do Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotivo (IPVA) ou o licenciamento, o máximo que pode ser feito é um acordo amigável. A partir do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), a empresa entra em contato com o dono e pede que o carro seja retirado da via. Se estiver depenado e sem placa, cabe ao Departamento de Limpeza Urbana retirá-lo. Se for carro roubado, a polícia se torna responsável por essa tarefa.

Carros abandonados – a lei do mercado?
Manter um carro antigo pode custar caro e, portanto, ser inviável para boa parte dos brasileiros. Por isso, cada vez mais pessoas optam pela compra de um carro mais novo. Atualmente, há grande facilidade para comprar um veículo zero km. O consumidor pode pagar em até 72 meses sem entrada. Os automóveis mais antigos se tornam um problema para o dono, e essas raridades se perdem pelo simples abandono.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou no último dia 04 de março que a produção de veículos novos, no Brasil no primeiro do bimestre de 2010 atingiu 499,5 mil unidades. Um crescimento de 28,3% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram produzidos 389,3 mil. Segundo a associação, 2010 será o melhor ano da história do setor no país, com crescimento de 9,3% nas vendas, o que corresponde ao volume de 3,4 milhões de unidades. Esses números mostram que a lei do mercado está cada vez mais presente nesse setor. Todos os dias, a frota da cidade de Campinas ganha em média 100 novos carros.
O mercado de seminovos também é grande. O fim da redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros zero-quilômetro aqueceu o comércio de autos usados, contabilizando um aumento de 30% no volume das vendas. Para cada carro zero km, são comprados três seminovos.
Segundo pesquisa realizada pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), a frota de carros com mais de 20 anos caiu de 9% para 4,4% dos quase 30 milhões de veículos existentes no Brasil.
Contrariando a lei do mercado, há aqueles apaixonados por carros que compram veículos antigos para restaurar. Há também os colecionadores, que preservam seus carros há anos. Um exemplo disso são as feiras de exposições de carros antigos. A cidade de Águas de Lindóia, no interior de São Paulo, recebe desde 1996 o Encontro Paulista de Autos Antigos, que recebe visitantes estrangeiros e de todo o Brasil.

Como denunciar
Para denunciar veículos abandonados, é preciso ligar para o 156 da prefeitura ou diretamente para a subprefeitura local, que deverá constatar se o carro foi realmente abandonado.